sexta-feira, 22 de julho de 2016

Hoje bem cedo eu morri

Hoje bem cedo eu morri ...

Morri silenciosamente naquela folha desprendida que se foi ao vento. 
Na buzina que soou no automóvel espantando e calando os pássaros . 

Morri naquela despedida sem beijos e naquelas mãos que desataram os laços. 

Morri solitária como a última chama da vela, a mesma que sepulta a cera e morrem juntas. 

E escurecem-se sobre mim os céus, nublaram-se carregadas de medo as nuvens, em grandes monstros transforam-se ;
Obscureceram-se as minhas certezas e o meu poema foi calado 

Morri a morte derradeira dessas muitas vidas que tenho me apossado 

Porém, esta minha morte, não é morte em que o coração morre e para de sangrar 
É a morte súbita de todos os poetas  quando a emoção cala... 




Cristhina Rangel. 





Caligrafia

Capricho na caligrafia 
Ela apaga os olhos vermelhos
Os dedos cansados 
Os pulmões poluídos 
A garganta trancada 
Sem ter um ruído 
Os pés inchados 
Os sentidos ..sentidos
Escondendo a dor 
A dor na melodia .


Cristhina Rangel 





sábado, 16 de julho de 2016

Ipê

Ipê
O ipê se fez nu
cobriu-me de gotas amarelas
ninguém ouvia, só o ipê compreendia
a minha dor, minha agonia..
Minhas lágrimas caiam
e o ipê fazia coro
No acoite da ventania.
Cristhina Rangel.

GPS

Na órbita do teu olhar
Eu perco a lógica
se perde o meu radar
enlouquece o GPS.
cristhina Rangel.

Canção em sol maior

Canção em sol maior.
eu quero compor uma canção
nos seus lábios doces
que não seja amarga
seja anel no seu dedo
que seja café na sua manhã
e lua na sua noite
uma canção inédita
Que acorde as estrelas adormecidas
as damas perdidas na noite
que abrace os cães que uivam
os gatos que miam
para a sua lua
uma canção noturna cheia de sóis
e a sua mão na minha
que abra os botões da sua camisa
e que feche as cortinas
Acaricie as lentes
E seu olhar seja maior em mim.
Cristhina Rangel,

Sumo poético

O supra-sumo da dor
É extrair o sumo
Do olhar
E o amor sumir.
Cristhina Rangel.

Parceria

Parceria
Eu e você
No céu
que belo
par seríamos.
Cristhina Rangel.

Ave Poesia

Ave poesia
Minha poesia é Maria
Maria que me toma em braços calmos
Que me embala em tarde fria
Que no manto da noite, o temor resiste
Ah! Maria de olhos marejados
De pulsos cortantes
Em rítmica harmonia do sangue
Minha poesia Maria operária
Que irradia a fúria
A fauna aflora
Como a luz do dia
E prima a valentia em que é tomada
Ávida, também por fantasia
Minha Maria de asas celestes
De causticante agonia
A acudir-me fria, plácida
Em gesso, eternamente minha
Minha Santa Poesia.
Cristhina Rangel.

Amo

Amo...
Amo por que tens olhos que não nublam, 
Mãos que não desamparam 
Um coração afável que me sustenta nas dores 
E alivia os meus fardos
Te amo por que és fidedigno
De todas as mais doces palavras
E vem de ti minha coragem 
E todo amor que eu espalhe 
E todas lágrimas choradas te alcançam 
E meu sorrir, ao falar de Ti não cansa...
Em tua glória, o bálsamo divino, sinto presente
E murmuro o Teu Nome, em todo tempo 
E vou além dos muros que me impedem 
Decerto ter o teu amor é honra 
E me constrange quando falto.
Em dar-te além das palavras poucas 
A adoração que a Ti cabe... 
Porque sei que é meu escudo 
És também a minha espada
Quando venço o meu orgulho 
E minha alma assim prostrada 
Encontra em Ti repouso e calma.
Cristhina Rangel.

Escrevo ao teu esquecimento...

Escrevo à tua partida essas palavras frias
Aos teus olhos o breu entrego
Ao teu peito nenhuma cruz,
À tua alma nenhuma prece
Não mereces, nem que eu finja
Algum amor
Alguma mágoa
O quê eu tinha a dizer eu disse
Naquele silêncio costumeiro às tuas respostas
E assim finda
E ao teu esquecimento teço um poema mais bonito!
Cristhina Rangel.

Chove

Chove...
Chove sobre a flor e sobre a lápide
Nas sarjetas e mansões ..chove
Chove sobre mim e sobre os nobres
E eu pobre mortal molho-me
A doçura da chuva limpando o céu
Lava também minha alma
Limpa minhas facas sujas de sangue
Limpa minhas feridas purulentas
Adoça a língua e me exonera da beleza
Porquê chove e nada que se veja
Por detrás dessas vidraças
Será imagem inteira.
Cristhina Rangel.

Bendigo ao sonho.


Eu sei que sonho, embora o meu sonho seja um sonho simples. 
Sonho com a calmaria das campinas, o horizonte manso 
Ao som do vento dissipando as nuvens densas 
E a fuligem dessa cidade que em mim habita


Eu sonho um sonho de criança quase adormecida 
Com aquela fome comum aos que tem na alma escondida 
As esperanças de que essas tolices sejam nobres 
E esqueço as crianças das cidades esquecidas


Sonho a ternura de um sorriso largo e enternecido 
Ao vento de outono em fim de tarde destemido 
carregando as folhas secas e os galhos desprendidos


E por ser simples o sonho que carrego comigo 
Naturalmente ele é bendito e bendito o verso 
Que ao final, o meu sofrer fará desvanecido



Cristhina Rangel.
(Poema incidental ao som de Chopin - Lento em G menor)

I am mine

Eu viverei pra mim
já não tenho amarras
O amor que amo é livre
A dor que sinto me pertence
me pertencem minhas pintas
meus sinais, meus sons
meu ritmo
As canções que voltam do passado
não me atingem, à elas eu não devo
nada mais...
Esses meus ossos quebrados
esses meus olhos aflitos
Os meus risos são só meus
Não há confiscos
Não me entrego ao compromisso
não há mais contenção em minhas
rimas,
deixo que sangrem
sei lamber minhas feridas
Meu rosto no espelho me reflete
tão precisamente
Que meu passado, neste misto de
amores,
já não desperta outras dores
que eu já não tenha sentido
Corro o risco da solidão
Guardando em mim a multidão
Das mulheres que me habitam
As que geram, as que matam
as que me mutilam...
e nenhuma te pertence
e nem a outro amor
nem ao amor perene
que hoje eu vivo
Minhas razões encontro em mim.
Cristhina Rangel.

Estagnação

Estagnação!
Minha letra não aceita estagnação
Ela como outras coisas doidas, Não se submete
O homem que pisou na lua era poesia,pura!
E o que os que fizeram a muralha da China
Aquilo é loucura!
E o cara que deu cara para o Cristo
e lhe abriu os braços
e lhe deu um coração de pedra mármore
Isso é insanidade!
Eu gosto das coisas loucas!
Fico observando como se eu fosse uma esfinge
às vezes me dói a laringe essas palavras presas
E escrevo às pressas, compulsivamente
Resultado? Nada espero. Não posso é ficar estagnada!
Então quando se abrem as comportas do meu pensamento
e eu fico desatenta ao mundo e suas maravilhas...
que maravilha! Nesse momento crio o meu próprio mundo.
Sou uma verdadeira catarata de tolices, de bobagens...
quem vem até a mim, sabe que vai ouvir o meu estrondo,
que poderá sair molhado, mas tudo é questão de gosto
E eu gosto de ser legítima, embora tudo já tenha sido
de outra forma declarado
O que me prende é falar dos outros, os outros...
Poucos, tenho admirado.
Então me amargura o verso
São tão racionalizados!
Amo a loucura do que sou, das minhas diminutas qualidades
Esse meu egoísmo em falar de mim e das coisas
a quem tenho me dado... corpo e alma.
A melhor razão para ser louco, é poder ser poeta
Atirar pedras, colher flores, submergir em coisas rasas...
como eu e outros poetas que não se deixam ser calados.
Cristhina Rangel.

Poetisa

Poetisa...
Quando estou triste, eu sou artista
Quando feliz..eu sou arteira
E uma e outra é que me fazem 
Ser inteira.
Cristhina Rangel.

Fúria

Fúria.
Eu queria fazer um verso que tivesse uma força pungente,
Capaz de arrebatar o coração desesperançoso dessa gente...
Um poema de paz que fosse furta-cor e roubasse seus olhares
Esses perdidos entre estruturas concretadas na nossa alma
Um poema que dissesse a repugnância que me causa
Tanta guerra, tanta fome ...
Um poema anti social , um poema inflamado de uma paixão absoluta
Pelas almas que sobrevivem em meio ao caos
Eu queria um poema com poder sobrenatural de cura
Sim, fechando as feridas do esquecimento,
Curando as chagas interiores
Desfazendo bagagens abarrotadas de temores e receios
Eu queria fazer um poema que tivesse o peito de mãe
E nele encontrassem o repouso e o alimento
Aquecidos numa ternura qualquer que fosse plena
E no pensamento a mansidão de alguma canção
Eu queria este poema composto por mãos calmas
Mas em minhas mãos, tenho fúria, tenho raiva!!
Tenho um coração repleto de poesias
E minhas mãos vazias, incapazes de o compor...
Cristhina Rangel .

Das coisas que me importam.


A serenata será nada
Se não houver amor
Será nada, também a flor
E será nada o vaga-lume
Aos olhos desatentos
Presos ao negrume
Será nulo o batom sem beijos
E o roçar do queixo se não
Tiver tesão pra atiçar
Será inútil a palavra bela
Se não houver outro poeta
Para ler e aprisionar...
Cristhina Rangel.

Inocência

Inocência.
No vago sorriso que se desprende em meus lábios,
Por ocasião de um olhar que encontro desatenta
E silente aprecio o reconhecimento imediato
Pois a mesma paisagem, os meus e os seus apreciam
Rio fácil, me refaço da rotina massificante
Como se esse estranho riso
Fosse mais que um riso solto,
Houvesse nele outro encanto
Não sei se por suas mãos gorduchas
E seus pequenos dentes de leite
Ou as bochechas coloridas como pintura
Talvez pela graça como vês os pombos
E outros passarinhos disputar as sobras
Sei que fico à sombra da sua inocência
Refrescando a alma e os pensamentos
Repensando as minhas faltas...

Cristhina Rangel.

Cantos do Brasil - Cabo de Santo Agostinho -Br.

Cabo de Santo Agostinho - Pernambuco
Vila das Mercês
As palmeiras da minha terra
Beijam o mar das minhas veias
Nelas, até minhas lágrimas verdejam
E a saudade descansa brejeira
No cais da encosta adorada
No canhão que ergue-se como um braço
No Forte Castelo do Mar
Difícil é sentir-se sozinho
Pois cada pedra conta uma história
Desde as antigas capitanias
Dos engenhos à cana-de- açúcar
As antigas naus que lá ancoraram
Fazem da minha terra berço de poetas
O Cabo de Santo Agostinho
É mar de rede fértil
O marco zero do meu caminho
A vila em que fui nascida
à "mercê" das minhas fantasias
Ainda hei de rever, mesmo que seja
Em outra vida..lá em minha terra
Feito um jequitibá- rosa,
Eu irei florescer ...
Cristhina Rangel.

Laços

Os meus olhos tem laços
Quem já foi tragado por eles
o sabem Movediços..
Os meus olhos castanhos
Anoitecidos
São céus de anjos
Habitats de ondinas
Os meus olhos cais noturnos
Turvos de neblina.
Veem almas, serpentinas
Canibais os meus olhos
São chacais na escuridão
Fecham-se apenas para sonhar
Abertos são alcovas
Onde deleitam_se os amantes
Cristhina Rangel

Filosofando

Filosofando...
Se amor é uma corrente, o único medo que resta é que ele com tempo enferruje e perca o brilho,que seja corrompido, corroído pela posse de tal forma que fique frágil, e se agregue a areia das nossas ampulhetas tornando-se apenas rotina... Uma rotina presa por paredes de vidro que olhando ainda nos encante ter domínio sobre ela. E fiquemos tão velhos e estagnados como meros observadores de nós e nem nos demos conta de que o amor perdeu aquela rajada de um vento forasteiro que ao invés de aço o teria feito alado... Borboleta, passarinhos, folha de outono, fadas... Qualquer coisa cuja a brevidade é por si só seja infinitamente livre.
Cristhina Rangel

Calos de seda

Calos de seda
Na aspereza do caminho
Seus calos de seda
Em meus pensamentos
Me acarinham
Delicada força que desfaz
Meus descaminhos
Nos teus calos de seda
A tua mão segura a minha.
Cristhina Rangel.
Ao meu pai Manoel Gregório.

Erros Perfeitos


Eu queria fazer um soneto
A la Florbela Espanca
Mas a minha pressa é tanta
Que me falta técnica
Mas não me falta sentir
E sinto muito que seja assim
Pois minha pressa
É ter você pra mim
com todos os erros
Ortográficos e gramáticais
Tenho ideias geniais
Para nós dois
Você segura minhas mãos
e corrige os meus erros
Eu gosto do clima
E cometo outros mil
Ficamos assim juntinhos
Inventando uma nova métrica
Um mote mais profundo
Uma linguagem perfeita
Sem a imperfeição dos ais
Cristhina Rangel

Sobre aquelas coisas, sabe ?!


Aquela sensação de que não vi uma paisagem
Que fiquei perdida no meio da estrada
Que não completei o texto
Que a cena perfeita não foi encenada
Aquela sensação de incompletude
Que me faltou atitude
Ou quem sabe.. Uma cara mais lavada!
Aquela sensação que me confunde
Que pode ser inútil a tentativa
Ou posso parecer ousada
Aquela coisa que se pensa
Mas só rola, quando não foi pensada
Essas coisas que a gente pensa
Mas só é boa quando é realizada!
Cristhina Rangel.

Céus


Eu quero um céu que não adultere a minha inocência
que não registre, que não acumule minhas máculas
que me torne impune da minha devassidão
e entenda minha diversidade
eu quero um céu sem dor
um céu que eu grite e que haja um ouvidor
quero um céu diferente deste meu céu quebrado
em diminutas partes, em infinitas partículas
que encontro por toda a parte.
Eu quero céu que me refine
que me atente os sentidos
que seja camarada e mais nada
um céu sem nuvens, sem paraíso
sem estatísticas, sem calamidades...
um céu...apenas céu, e não acho!
_Céus!
Cristhina Rangel.

Eu não queria ser poeta.

Eu não queria ser poeta.
Eu não queria ter nascido poeta
Não queria amar como amo
a flor e a aurora
Nem a meia velha
que me conta história
Não queria ver no homem seiva
da vida, e sangue de guerra
Nem essa incansável batalha
que sempre se perde - ao tempo
Eu não queria ver no ventre
A sina de sofrer mais do que deve
Nem do pulso o exemplo débil
Eu não queria ser poeta
e morrer sempre que morre a vida
a capengar pelas avenidas
com a alma carcomida e degenerada
Eu não queria ser nada
além dessa palavra que se diz vida
e que se diz morte e que se desdiz
o quanto quer,o quanto anseia reinventa-se
Eu não queria ser poeta
Nem amar desse jeito que não cabe
aqui dentro e tolamente esvai-se
pelos meus dedos trêmulos
Cristhina Rangel.

Em tudo te vejo

Em tudo te vejo
Te vejo nas trevas
Na calma
E na tempestade
No cais
E no mar
Na montanha
e no vale
Na campina
Onde repouso
No rio que passa
Te vejo em tudo
E em tudo te louvo
Na minha loucura
E na vã sanidade
Na mocidade esquecida
No envelhecer que não tarda
Minha alma te encontra
Sempre quando me sondas
Me corrige e me abraça
Eu te encontro na vastidão
Do infinito
E no átomo
Quando a palavra me atina o siso
E eu cismo que não sei nada
Eu te vejo em tudo
E em tudo contemplo
A tua graça
Cristhina Rangel. Para Deus!

Despedida

Despedida
Quando morrer não me entreguem aos vermes
E ao charco
Quero ir ao cume mais alto
E morrerei outras mil vezes
Dispersa nas gotas de orvalho
Nas pétalas dos girassóis
Consumida dos raios solares
Beijada por um beija-flor.
Cristhina Rangel

Comovida

Sei tudo de liberdade e me comove sobremodo aquela que chamam de solidão, pois há nela algo inexplorado que me faz plural.

Segredo

Segredo.
Era eu.. Era eu na imensidão dos teus olhos que me olhavam como o astrônomo busca uma nova estrela no espaço ou como o moribundo em seu olhar de achar resposta... Ou talvez fosse mais simples, puro e manso o teu olhar menino de querer rodopiar comigo..
O teu olhar moço a correr de mãos dadas para o mar a enfrentar as ondas e sorrindo sempre o teu olhar dono de uma ilusão que era eu e eu lo sabia.
E sabendo que era pra mim aquele olhar de infinitude tudo aspirava dádivosa, para que nada apagasse aquele brilho.
Porque era meu aquele olhar e eu sabia.
Cristhina Rangel.

Adormeço

Cada nuvem no céu desta noite é uma ilusão que deixo partir. Procuro lágrimas em meu travesseiro e já não as encontro, e repouso suave nas espumas das lembranças e compreendo que sol que havia neste cobertor, enveredou-se pelas frestas dos meus dedos...
Nada mais me resta, a noite engole os lamentos dos amantes quando se separam e o vento canta uma canção macia de saudade... Eu adormeço.

Liberdade

Não brinque com minha alma morena
Ela já subiu muitas ladeiras
Não tenho tempo para brincadeiras
Não sebe viver de ilusão
Minha alma é livree topa o desafio
De se apaixonar perdidamente
Mas se mente, meu amigo
Comigo não vai germinar
É muito papo. Muito lero- levo
Isso eu não.quero nem pensar
A vida tem seus mistérios
E eu já aprendi a me libertar
Não uso meias palavras
Minha meia é arrastão
Não perco tempo com prosa
E conversa de garanhao
Não me vendo, não me troco
Por menos que uma paixão
Se der pé a coisa rola
Caso contrário, não quero contradição
Papo de malandro eu conheço
Melhor não forçar a barra
Minha alma não aceita
Viver em leis de prisão
Cristhina Rangel

Você ficou.

"E amanhã se este chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu
Delirar e morrer de paixão"
(Maria Bethânia. )
Você ficou.
Você ficou na imensidão
de uma paixão não vivida
Numa frase perdida
No poema esquecido
No ardil da minha invenção
Você ficou amorenando a página
Rasgada em pedaços sofridos
Deixando os seus olhos na minha visão
Na rima frágil, me roubando o chão
E no frenesi do desejo
Queimando o colchão
Ficou em silêncios perdidos
Numa doce aflição
De querer, sem querer tuas mãos
Pela minha cintura, pela nuca
A doce covardia a dizer-me louca
Na minha ousadia de fazer-me pouca
E dizer que queria beijar sua boca
E sofrer quando disseste-me não
Você ficou assim encontrado
Em meus mapas, sinalizando
A viagem que eu não fiz
Nem por isso sou menos feliz
Nem por isso sinto menos paixão.
Cristhina Rangel.

Se.

"Se."
Não sei se minha poesia
sou eu quando saio de mim
ou se quando entro em lugares
desconhecidos dos meus desejos
Se sou eu quando viajo
ou se é lugar recôndito dos meus medos.
Se minha poesia, é minha verdade
ou se é minha mentira
e não me retrato dela!
Se minha poesia é maior riqueza
Ou se é aterro onde despejo, minha podridão.
Se nela encontro amor eterno
ou se nela, sou dona de mais paixão.
Não sei nada da minha poesia
se ela é lugar que me multiplico
ou se apenas subtrai minhas decepções
e é se canto afinado
ou se é grito desafinado das minhas visões.
Nem sei se é apenas vício, não sei!
minha rotina talvez, só poetizar...
Virando as páginas como se fossem dias
rostos como se fossem páginas...
deixando alguma saudade
provocando algum suspiro
acertando nisso, errando naquilo
comovendo uns, por outros esquecida.
Cristhina Rangel.

Hoje eu sonhei com você amor.

Hoje eu sonhei com você amor.
Meu amor quando deita em meu seio
E sonha adormecido,
(Há de ser um sonho só comigo)
Enquanto observo os seus cílios
E outros detalhes dele
Que só para mim farão sentido
E depois que observo, sorrio
Pequenos novas descobertas
Que me põem em cio
Como se trapaceasse o tempo
Nestas noites de tanto frio
E nas cobertas felpudas
A paisagem da vida muda
Quando os seus braços me envolvem
Como braços de mar
E é tanto mar que me afogo e me afogueia
Uma certeza assim sem par
Que é no meu corpo que vem sempre aportar
Depois das correntezas e depõem ao meu favor
As suas juras, e palavras de amor
Sem saber por onde anda em seus sonhos
Essa noite, eu sonhei contigo
E já possuíamos cabelos embranquecidos
E caminhávamos à tardinha, na areia
Não vi seu rosto, mas reconheci os teus
dedos entrelaçados aos meus
e a sua respiração em silêncio
E era tanto, que senti a sua veia
Pulsando no mesmo ritmo da minha
E não tive medo de adormecer
Cristhina Rangel.

Pensamento

Estou sentindo minhas asas abertas e em pleno voo,
Meu corpo transmutado, sou um ser alado
Mergulhando em águas profundas
Misturando céu e mar, terra e fogo
Os elementos e os sabores cítricos e agridoces
Que se dispersam no caminho e caem na minha boca
Em forma de poesia...
Cristhina Rangel.

Pensamento

Eu tinha.muita coisa pra falar, mas a noite me calou com beijo de adormecer, a vida não é conto de fadas o príncipe que dorme ao lado ronca, baba e peida.. 
Eu não uso tranças. Nem canto com passarinhos r minha abóbora é moranga, que faço com carne de charque, comprada na feira... 
Então não tenho sapatinhos de cristal. Durmo de pijama de flanela e meias

Lua Aveludada

A noite coloca seu manto negro aveludado
Na boca coloca batom vermelho
Seu beijo é orvalho sobre pétalas
A ilusão na ótica fazem sombras
Mais bonitas, e a silhueta imaginada é sempre sonho, esquecido no amanhecer.. E assim sendo, a noite permanece em nós, e todos os gatos continuam pardos sob a luz do sol...
A noite fica intacta nessa visão tacanha de nós mesmos, nesses meias verdades, não ousamos dizer: eu te amo!
Não ousamos nos despir da noite que há em nossos sonhos.
Cristhina Rangel

Fragmento textual

(...) Antes quando dava-me ao direito de ter alguma quimera, busquei-te ainda que em pranto. Como o grasnar de um corvo em noite aberta, em minha alcova amortecida de cobertas e desencanto ,pouco a pouco foi-se. Muito antes já temia que no logro das paixões corruptas e fingidas partiras, e sem palavras, estremecida a alma eu já sabia.
Teus olhos jamais foram segredos, porém sagrados fi-los e enganei-me, caminhando em trevas premeditadas por minha própria covardia. A placidez das palavras que me ocorrem, é o eco desperto das lembranças do trajeto percorrido, só, lânguido, solitários passos deixados à margem de tua história, que por desmandos do destino, fui te sempre clandestina.
Cristhina Rangel.

Nas órbitas do seu olhar

As órbitas do meu olhar.
Este olhar que tenho hoje
Não esconde a minha essência feminina
Nem a força das minhas fibras
E minhas manhas, minhas rimas
O meu corpo moreno não morre
ao teu descaso, ainda sou
Água que corre para o mar
Nenhuma trapaça, me encarcera
Eu fico a observar
o teu penar, e suas tristezas
Sei que não pode me alcançar
Sou uma estrela ardente
Que queima na vida
Os sentimentos mais profundos
Não sigo outros astros
Tenho minha órbita delicada
Mas cortante, abrasante
E quando se apaga a luz
que era tua
Eu queimo em outros céus
E você não vê
Neste seu observatório oco
Que chama de certezas
As minhas chamas só lampejam
Cristhina Rangel.

Quero morrer poeta

Quero morrer poeta
Quero morrer poeta
e não temerei o inferno
Não terei com Deus,ou outro santo
impedimento pra alcançar o céu.
Quando São Pedro com sua chave
Questionar-me as glórias
Direi que fui poeta...
E amei os encarcerados
e os penitentes
que amei as prostitutas
e os dementes
Direi que amei o chão marcado de sangue
dos derrotados
e todas as outras minhas vicissitudes
hão de ser-me perdoadas
As pragas que roguei
Os ódio que carreguei
por tantas vezes ter amado
As ofensas declaradas
O orgulho e essa enorme
vaidade
De morrer poeta
O beijo embriagado de desejo
O excesso de valentia
E a covardia de tantos outros
inimputáveis disparos
E essa sanha de morrer
vivendo o que sou
e me salvando desse inferno.

Cristhina Rangel.

Bala de menta

Bala de menta.
Sou uma flor que ao tempo aberto perde o viço
Estrada que se apaga
Sorriso que amarela
Minha alma assim revela
As dores que trago comigo
Sem partidas que me firam
Sem chegadas que me salvem
Saudade e alegria infante,
pueril lembrança de outros tempos
Sou lamento, um eco, uma sombra
Um elo aberto, um porto desencontrado
Pouco de mim e mais nada carrego
O resto perco, obedeço
o destino implacável...
Trago fumaça e menta
que me refrescam o hálito da mente.
Cristhina Rangel.

Pelo que te sinto


Amo-te não pelo és
Amo tua presença que abrupta
anula os meus poemas
que faz deles cândidas mentiras
Amo a tua oposição ao meu querer
E aos meus ideais
Minhas ideias irreais de amor eterno
Amo a pele branca que te veste
Como se fosse lua
Em meu corpo moreno
Um céu em noite escura
E teu ambíguo olhar a baratinar
meus pensamentos.
E esse sentimento que não tarda
em aborrecer o meu orgulho
E me faz tua...
Cristhina Rangel.

Restos de Saudade


Esta página é apenas um trecho
do caminho que traço
os meus trapos, se espalham pelo vento
Minhas velhas lembranças
Do amor que eu tive um dia
Tão doce quimera resta-me
Seguir o dia, a noite sem estrela
Resta-me qual bandeira a tremular
Solta, estendida,
Criar um verso sem rebeldia
Um verso manso que a luz do dia
Seja um verso indelével
Leve, fugaz, enternecido
Resta-me um pouco mais de riso
e margaridas brancas
águas cristalinas onde desaguam o meu pranto
que sem dor, sem perfídia, sem vãos
completem a poesia adormecida
nos meus dedos....
por tua imensa ausência.
Cristhina Rangel.

Dos sonhos

Dos sonhos...
Conto minhas estrelas particulares
Meus sóis da meia noite
Minhas linhas e lãs se tramam
Trançam meus cabelos
mãos de nuvens
Afagam-me, acariciam-me
Eu relaxo e salto levo
Não sinto os tendões que me prendem
Sou bruma, orvalho no amanhecer
Nessas minhas jornadas de esquecer
Revigoram-me tais sonhos
Lúdicas inspirações que surgem
no silêncio dos meus olhos
quando buscam constelações.
Cristhina Rangel.

Time Line


Não tenho tempo para revoltas
o mundo nessas voltas
quebrou o meu orgulho
minha poesia morreu
de morte hedionda
em meio ao caos
Não tenho tempo pra suplícios
tudo me parece já normal
nem a dureza me assusta
Nem a moleza me abala
Minha poesia em desterro
detesto..escrevo e abafo
Cristhinangel

Mariposas


Eu brinco de sensações
Imaginando a intensidade variante
Dos seus dedos em minha nuca
E ora leve, ora fere, arrepia, estremece
Brinco de emoções, guardo em meus calabouços
Onde ir ninguém se atreve
Só nos cabem _ eu e tu _ e os silêncios
E eu brinco com as notas
Do seu no meu perfume
Notas do nossos segredos em bemóis
Tomando notas de nós
Silenciosos vaga-lumes
Rimos a dois acovardados
Enquanto ardem nossas culpas
Nas flores dos lençóis
Nos excedendo em ternuras
Verve e fogo se misturam
Somos outras criaturas
Mariposas esquecidas de si
Morrendo iluminadas
No lampejo de um gozo.
Cristhina Rangel.

Tentativas


Eu tentei tocar o manto azul que me desperta
Acariciar as nuvens brancas dessa aurora
Tentei beber do orvalho fresco que me cerca
Nas folhagens e por toda a relva
Mas havia a neblina e a vida incerta
Os vãos do pensamentos consumindo
Os sonhos feito insumos
O paladar sem gosto e tão deserto
Perplexa ante a vastidão de condenados
Eu e o do meu lado, olhamo-nos imprecisos
Almas destinadas as cinzas que repelem
Os nossos signos silenciosos
Seguimos de mãos desatadas e amorfas
Acendendo nossas calamidades íntimas
E inimagináveis em nossos olhares opacos.
Cristhina Rangel.