segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Banho de chuva


“ Quando meu filho Daniel era pequenininho, dias de chuva, eram dias em que ele me causava preocupação. Bastava aumentar a chuva e ele rapidinho, pulava o portão de segurança que colocávamos na porta, corria pela varanda, passava por baixo da rede e se enfiava na água que descia pela canaleta na frente da nossa casa. Ele ficava ali, de fralda, de roupinha, passando a mão no cabelinho como se estivesse passando xampu, com o sorriso mais contente, mais feliz que alguém poderia ter. E então eu aparecia e o chamava:

_ Pippo, o que você tá fazendo?!! Expressão tipica de mãe. E ele respondia:

_ É “suvinha” mamãe!
Ou seja, ele não estava fazendo nada, era apenas a chuva, ele estava sendo ele, e a chuva sendo apenas chuva ...

E fazia um gesto, me convidando com a mãozinha gordinha pra tomar chuva. Mas eu, eu sempre o tirava da calha, como proteção, medo de que adoecesse... ele chorava:

_Eu quero a “suvinha”, a minha “suvinha”...e chorava sentido até adormecer...

Aprendi com ele a tomar banho de chuva, antes eu achava que tomar banho de chuva era algo que dependia unicamente, da falta de um guarda-chuva, ou uma cobertura qualquer, agora eu sei que banho de chuva só é banho de chuva quando a gente abre mão da proteção e apenas se lança nela.

Aprendi com mais trinta anos que, o quê me parecia proteção, pra ele era castigo.

E agora quando chove eu também preciso ir na minha “suvinha” e espero que ninguém me proteja.Por que eu ainda não consiguiria chorar até adormecer...sem dizer o quanto me doeria essa proteção." 

Crithina Rangel  

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