sábado, 21 de fevereiro de 2015

Estranheza Comum

Todas as estranhezas que trago 
Aurem das minhas entranhas
Todos nós somos dotados de peculiaridades 
E ser sã seria maldade 


Minha loucura feminina 
Minhas altas dosagens de riso 
E minhas alucinações de alcova 
Sorte a minha não ser lúcida 


Persisto estranhamente lúdica 
Brinco com o diabo 
Aperto o botão vermelho 
Das minhas armas de extermínio em massa 


Mato a normalidade dos meus pensamentos 
Ser normal me assusta 
Eu não gosto de ser diferente 
Gosto de gente que surta... 

De gente estranha que me reconhece 
Na sua própria loucura 
E dança comigo ao som de chuva
E me arrasta pra cama 

E me deixa doente de medo e de raiva 
E de desejo me causa febre 
E me amputa a parte casta 


E nas minhas entranhas se abriga 
E conhece minhas feridas 
E gosta até do cheiro delas
E me dá ao invés de pronto, riso

Por não me conhecer completamente 
E ter-me  em cada olhar , subentendida 

Cristhina Rangel. 






A pipa na janela

  A pipa na janela


No tropeço do sonho
Abismo Profundo
O teu nome
Um rascunho

Fuligem que agarra
O visgo que fica
O pus da ferida
A minha boca aberta

Profano o ar
Com teu nome mundano
Calculo os danos
Que me fizeram chorar

Mas teu nome me escapa
Como linha que quebra
Deixando a pipa no ar

Perdendo a graça
Acabando a brincadeira

19.09.2014  Cristina

Cristhina Rangel,

À sombra dos poetas

À sombra dos poetas.
Sim, eu retive em minha alma as poesias lidas no silêncio do quarto, as paisagens e aquarelas. O pincel do poeta tocou-me profundamente desenhando lágrimas em meu olhar, e viagens à tempos longínquos e neles foi menina, foi garça, fui ondina, fadas e vesti um vestido cor de sonho, furta cor.
Sim, eu retive em minha alma as poesias mais belas e doces, as mais orvalhadas poesias eu guardei misturando-nas ao suor derramados em camas e lavouras férteis onde cada poeta semeou suas sementes, colheu seus frutos, inventou sabores misticos, alquimias intensas de prazer e medo...
Sim, eu retive em minha alma as poesias que me queimaram a pele do poeta causando-lhe delírios e dispersas ao vento, girou moinhos,
cataventos, criou corredeiras, sangrou a fé dos inocentes e a assou a carne do cordeiro...
Sim... eu as retive tanto em mim, que já não sei quem sou, se a palavra que digo é só resíduo de verso que ficou, remendo na memória, versos que não sei se serão cópias e temo a minha sorte, se essa poesia que trago em mim, nada mais seja que a sombra de poetas que me emprestaram suas asas...e que agora eu já não possa reencontrar-me.
Cristhina Rangel.