quarta-feira, 2 de março de 2011

Lembro Mais


Lembro-me mais do dia em que partistes
Do que o dia de tua chegada
Em tua chegada a laranjeira estava florida
E o ar carregado de uma doçura cítrica.
Que se misturava ao teu cheiro
Amadeirado e quente, de um ambiente calmo
Que combinava com a flor branca em meu cabelo

Quando te fostes transformou-me a paisagem
Vi-me rasgada pela força brutal
De um quase Sansão com que partistes
E desde então encontro meus pedaços

Meu olho direito dentro da geladeira
Meus pés encontro sempre à soleira
No aparador ao lado do vaso vazio
encontro minhas mãos frias
(Não sei que mês acabou...)

Os rins gelatinosos espalhados
pelo teto e no ventilador
Meu estômago revirado sempre
atrás da porta que deixou escancarada
E meus tendões frágeis, estiolados
Remendo sem nenhum vigor


E assim revivo a cada instante
a teu partir e me remonto
Recordando o dia da tua partida
lembrarei mais até que eu me encontre.

Cristhina Rangel.










Morpho ( Infernos Azuis)


No simples olhar que me lanças despe-me
Tece-me sua trama esses seus olhares indecentes
Iridescentes, tal as asas de uma Morpho
Insensato subtrai-me os medos.

Refugo e maldigo esses olhares
Que me tonteiam, que despertam
Minhas mais penosas culpas

Diz-me a que veio?
Senão para atear -me o fogo
de mil candeias?

Mas logo nada vejo,
Nem teus olhos
Só tateio...

E te fazes meu degredo no ato
de desvendar os caminhos do teu corpo
te dedilhando sem juízo ao
comando da tua boca.


A mercê de sua sorte
Não serei jamais absolvida
Pois nem nesta ou noutra vida
Há de haver prisão que me liberte
Dos seus infernos celestes.

Cristhina Rangel.

Indomável


Indomável.

Creia, quando leres estas linhas estarei distante, certamente terei sido levada pelas minhas tempestades, essas minhas minhas ventanias são tão fortes que me apartam de tudo que eu quero ter por perto.

Digo-te isso para que não vejais ingratidão no meu partir, mas para que saibais que na previsão de um fim, prefiro levar a ternura destes teus olhos celestes a tê-los tristemente guardados em carmim.

Eu que já alforriei tantos amores, sem jamais deixar bilhetes ou desculpas pedir, confesso que meus rios ainda convergem aos teus mares tropicais, me impelem a permanecer, rodeada de seus braços e de teus silêncios, imersos em prazeres descobertos neste meu corpo que reluta em estar acorrentado..Eu sou navio sem âncoras, vivo a debater-me por rochas e encostas, se permaneço naufrago no mar destes teus sonhos.

Ora, vês! Não é por falta de querer-te e sorver-te de tão imensa forma, que o despeço. Quero eternizar o amor que lhe tenho, pois convenhamos não sobreviveria ele aos meus arroubos femininos, certamente se transformaria ao meu bel prazer e logo não seria mais quem és, um condor que enfeita o céu em indomável liberdade.

Por agora, guarda-me em teu peito sem mágoa, sem queixumes e eu já morta de ciumes deixo-lhe esse adeus.


Cristhina Rangel. ( série cartas)

Aparição

Aparição

Quando não te vejo
é que te amo mais
Porque em tua ausência
Não sinto outros amores
(É tudo deserto. )


E suponho que esteja em ti
a parte minha que é capaz de ver
a parte capaz de sentir
está em tua pele, doce, leve

E no sussurro do vento pela rua
tua imagem nua, é quase sacra
Santíssima , esculpida em mármore

É quase aparição que me surpreende
Num breve instante, que te vejo
Presente no meu próprio vulto
Na percepção de ter
em mim o teu perfume.


Cristhina Rangel.
(Original em Italiano)

Amantes

Amantes

Não Sabem!
Eles não sabem!

O sol não sabe a intensidade
Que a tua pele me arde

Nem a lua sabe quantas faces tenhos
Nesta cama, minha e tua...
E são muitas
Essas minhas fases que só tu conheces.

Nem o mar alcança a amplitude dessas
nossas ondas de volúpia, desconhece
essas ondas que são tuas...

Desconhece a flor o teu buquê e as sementes
Que plantas e o prazer faz renascer

Eles não Sabem!

Só as paredes sabem..mas estas
Nós fingimos esquecer!!!

Cristhina Rangel.

Alma Velha

Hoje vi minha velha alma
E chorei como menina
Tentei correr e por meus pés no rio
Não o alcancei..

Tentei rodopiar e ver
No barrado da minha saia
As flores da primavera
Mas era inverno, eu era fria..

Tentei desfazer-me dessa tristeza
Entretanto ela a mim se prendia
Como nódoa, um visgo de lembranças tantas
Eram tantas - Meu Deus! - tantas que eu via!

Rendi-me a dor de ser o que restou
Da menina que eu fui um dia
Nas cicatrizes dessa minha alma triste.

Cristhina Rangel.

Desarma-me



Troco hoje a minha doze, por um salto oito.
Minha insígnia, por um colar de brilhantes finíssimo,
combinando com os brincos.

Deixo guardado o colete
preparo um vestido vermelho rendado,
sem alças e as ligas.
Eu gosto de correr perigo!

Na carteira pequena de mão,
eu carrego o batom.
Deixo o rádio no canto esquecido.
Sou o alvo certo, da tua líbido.

No salão iluminado, de luzes festivas
Não tenho disfarces, eu quero ser vista!
Meus cabelos castanhos, em minhas costas nuas,
onde atiras o teu desejo, me beijando suave
e me arrepias a nuca.

Eu provo o poder das algemas que são
as tuas mãos, envolvendo a minha cintura.
Não me arrisco a uma fuga!
A minha estratégia é só me render!
Lutar só se for no prazer.

Num corpo à corpo, frenético e brutal
Onde nem o gozo é o golpe final.
Me deleito na tortura das tuas carícias
lambendo-me a pele suada e sedenta
da tua volúpia.

Quebrando a razão das leis, que a vida me impõe
transgrido no tempo sentindo o teu cheiro
e o teu jeito tão meu, de nos fazermos únicos.

Desarmada e nua,
suas mãos revistam meus esconderijos,
eu te confesso que sou toda tua,
e o teu corpo se faz meu escudo.
Minha tática, minha conduta!


Cristhina Rangel.